O que é o Festival UM?
Using Our Illusions
UM: Festival Internacional de Intermedia Experimental é um festival de 4 dias que tem lugar entre 12-15 de Novembro 2009, em vários locais na zona central de Lisboa, com a exposição que continuará até dia 27 de Novembro.
O evento inclui exposições, workshops, conversas, concertos, performances e conta com a participação de artistas, músicos, académicos, designers, arquitectos e profissionais de renome internacional.
UM tem o objectivo de ir além do termo limitado de “media art” e por isso apresenta práticas “intermedia”, como uma combinação de formas de arte que se focam no conceito, na comunicação, na realização e no investimento. Na exposição, nas conversas e nos workshops a ênfase é posta nas práticas cruzadas, experimentais e socialmente comprometidas, que correm riscos, expandem ideias e juntam abordagens e técnicas diferentes.
Enquanto um dos únicos festivais deste género que actualmente acontece em Portugal, UM tem como objectivo apoiar a apresentação e disseminação de práticas de intermedia contemporâneas de Portugal, bem como trazer ao país artistas de fama internacional. Recorrendo a abordagens de curadoria à programação abertas, este ano os promotores musicais e curadores QuJunktions (UK) e o Prof. Jussi Ängeslevä (FI/DE), do departamento de Digital Media, Universidade das Artes de Berlin/ Universität der Künste Berlin, foram convidados para dar o seu contributo na selecção da programação.
Paisagem: tema do Festival 2009
Criado em 2008, esta é a segunda edição do festival. Cada ano o UM é guiado por um tema que em 2009 se foca no conceito de paisagem.
O conceito de paisagem tem origem no século XV, quando “landschaft” era utilizado para descrever um terreno com determinada forma ou domesticado. No século XVII, os Holandeses utilizavam o termo “landschap” ou “landskip” para descrever uma pintura dum lugar específico, entendido como um domínio ou um espaço. Hoje em dia a palavra está geralmente associada a noções de lugar, natureza, vista, cenário, ambiente, bem como a noções românticas ou nostálgicas do mundo rural.
Nas Ciências Sociais e nas Humanidades o termo paisagem refere-se também à complexa construção social em como o espaço é organizado e produzido. Fundamentalmente, a paisagem tem a ver com a presença humana no mundo, é o que “vemos”, a nossa panorâmica, de qualquer ponto de vista (estático ou móvel). Nesse aspecto, a paisagem pode ser considerada um processo construtivo, é uma maneira de ver o mundo e as nossas relações projectadas nele. É um processo activo, pelo que o mundo exterior é mediado através da experiência humana subjectiva. Isto, por sua vez, não só informa o nosso sentido de realidade e nós próprios como também nos permite agir, mover e transformar – utilizar as nossas ilusões.
Os trabalhos seleccionados para a exposição, as conversas, os workshops e as performances exploram este conceito tomando em consideração as inter-relações que desenvolvem a percepção e a construção da nossa paisagem. Foi dada especial atenção aos trabalhos que, directamente ou indirectamente, abordam a extensão das nossas habilidades perceptivas e de que forma elas ajudam-nos a processar as nossas relações no mundo. Em particular, os trabalhos seleccionados abordam de forma conceptual questões ligadas ao conhecimento, informação e controlo, mediação e delegação de poderes, perda e desaparecimento, hábito e tradição. Na sua forma e estética são objectos, técnicas e ferramentas que permitem reflectir sobre alternativas, informando-nos sobre a nossa posição, diferenças e limites que podem abrir o fechar possíveis paisagens e realidades.
O que acontece?
Exposição
A exposição deste ano volta ao espaço ECV Fiat em Santos, onde o ano passado tomámos o controlo desta concessionária automóvel e inaugurámos o UM. A exposição deste ano apresenta uma mistura de objectos sonoros e instalações em formato ecrã, fotografia e telemóvel, muitos dos quais adoptam tecnologias novas e existentes para visualizar conceitos de paisagem.
O trabalho sonoro “Trigger Happy” de André Gonçalves (PT) é uma gravação ou projecção histórica do riso simulado ao longo de setenta anos, reflectindo sobre a maneira como os meio de comunicação influenciam o modo como comunicamos ou expressamos as nossas emoções. O projecto da ponte global de Jodi Rose (AU) mapeia a paisagem sonora extraordinária das pontes espalhadas pelo mundo e criará um resultado específico baseado nas pontes de Lisboa. A peça “The great game” de John Klima (US/PT), uma instalação pirata com um brinquedo para crianças que funciona com moedas, comenta o controlo da informação e a propriedade dos dados. Em quanto a visualização do nosso dia-a-dia, dos movimentos habituais em determinadas localizações é apanhado pelo telemóvel de CADA “Time Machine”. A obra premiada “Image Fulgurator” de Julius von Bismarck (DE) é um dispositivo criado de raiz que intercepta o flash das câmaras digitais em lugares públicos e sobrepõe outras imagens às que foram tiradas. As suas peças levantam questões sobre a maneira como as imagens fotográficas são utilizadas para construir e modificar as nossas percepções. “Artificial Smile”de Andreas Schmelas & Stefan Stubbe (DE) é também de alguma forma um dispositivo que sobrepõe o sorriso perfeito sobre qualquer imagem facial tirada, mostrando de forma clara como muitas vezes as ferramentas mediáticas “retocam” os nossos mundos, de modo a conferir a ilusão de perfeição. Terike Haapoja (FI) também mostra como a câmara, muitas vezes, capta elementos de vida não vistos e a sua projecção poética à escala real utiliza câmaras infravermelhas que acompanham o arrefecer do corpo de um cavalo conforme vai morrendo. Sandra Dick também utiliza técnicas fotográficas avançadas com o seu projecto “Monitor Photography”, que demonstra como um laptop possa tornar-se uma unidade de desenvolvimento fotográfico. O questionamento da maneira em que as imagens arquitectónicas são construídas e os tipos de representações físicas que tendem a prevalecer estão no centro do trabalho de Torsten Posselt, Benijamin Maus, Frederic Gmeiner (DE), que utiliza técnicas de algoritmo para restabelecer as nossas visões do espaço físico e da sua construção.
Música
A programação musical do UM traz um banquete de delícias, inaugurando uma nova aventura musical no dia 13 de Nov na ZDB (as portas abrem às 22h). Para expandir a sua paisagem musical, esta noite é uma co-produção com os promotores musicais e curadores de vanguarda QuJunktions (UK) que trazem o seu conceito QuWack ao festival. O evento começa com os maestros de gira-discos locais, os Whit, a tocar ao vivo. A seguir será a vez do QuWack, uma selecção especial internacional e nacional de artistas sonoros e músicos. Juntos irão tocar “à desgarrada”, cada performer sucedendo ao anterior, tocando a solo ou em colaboração. Irão surgir sons novos em quanto Infinite Livez e DJ Sniff irão tocar e passar as suas sonoridades e batidas, criando uma instalação/concerto ao vivo improvisada e que se revela pouco a pouco. Esta noite experimental é seguida por uma sessão ao vivo, inspirada na música de dança, do lisboeta Mr. Gasparov e de Bass Clef que irão mandar a casa abaixo com as suas músicas dub, 2-step e electro, no MusicBox dia 14 de Nov (as portas abrem às 23h).
Conversas e Workshops
As conversas e os workshops no UM focam na expansão de técnicas pedagógicas e conceituais que estão atrás dos trabalhos seleccionados e sobre o tema da paisagem. Ao longo dos dias do festival (12-15 Nov) haverá conversas e conferências focadas em: Consciência e Paisagem; Percepção e Representação; Maneiras de Ver Computacionais e Espaços Modulares. Cada sessão dá espaço para discutir e debater de forma mais aprofundada. A série de workshops de 2009 centra-se no pensamento conceptual contemporâneo e nas abordagens do design com STEIM (NL), Unsworn Industries (SE) e com o Prof. Jussi Ängeslevä (FI/DE) tratando de técnicas e ideias específicas.
Com a esperança de ver-vos no UM!