André Gonçalves, PT
Trigger Happy
O “Laff Box” foi originalmente criado por Charles Doglass nos anos 50 para produzir riso artificial e simulado para a TV. Reflectindo sobre a sua utilização o filósofo Slavoj Zizek conta a história de como, ao chegar do trabalho demasiado exausto para se envolver em qualquer actividade significativa, liga a televisão e vê. Esta acção leva a um dos seus vários textos sobre a influência que diferentes instrumentos mediáticos têm na nossa maneira de ser e nas maneiras em que expressamos as nossas emoções. Consequentemente para Zizek “os nossos sentimentos mais íntimos podem ser radicalmente exteriorizados, posso literalmente rir e chorar ao mesmo tempo”, nesse caso a televisão fornece esse alívio, ela ri por nós. No entanto, os dispositivos mediáticos não retiraram simplesmente a nossa habilidade de expressar emoções, reduzindo-nos a receptores apáticos. Zizek citando o seu colaborador, o teórico de arte Robert Pfaller, nota que a ameaça actual dos novos media reside na sua habilidade em fazer quase o oposto, eles “retiram-nos da nossa passividade, da nossa experiência passiva autêntica e preparam-nos para uma actividade frenética mecânica”. No discurso dos meios de comunicação esta actividade frenética é geralmente chamada “interactividade”, termo e actividade que tem sido incorporado nos hábitos mediáticos, como uma maneira aceite e privilegiada de envolvimento, sem necessariamente considerar o que é que de facto significa ou ao que é que leva também.
Trigger Happy baseia-se no pensamento acima mencionado, a peça é uma selecção de sessenta séries de televisão que vão desde 1950 até 2009. Cada série utiliza riso simulado e foi escolhido um episódio por série. Os episódios foram descarregados da internet e foi criada uma pequena aplicação que permite a cada um gravado e armazenado, como um ficheiro xml, time-coded. Isto é também visualizado como um gráfico de barras vectorial, onde a largura das barras pretas representa o riso simulado. Os tempos inseridos e o comprimento do gráfico representam a duração de cada série. Destes sessenta episódios foram gravados os pontos de entrada e de saída das inserções de riso simulado transpostas. Foi sucessivamente feita uma placa electrónica de circuito para cada episódio, que activa ou desactiva um som e um LED.
Sobre o artista:
Desde finais dos anos 90, o artista português André Gonçalves tem trabalhado em várias áreas como música, vídeo, instalação e performance. O seu trabalho explora instrumentos técnicos que informam a nossa compreensão de nós próprios e do mundo que habitamos. Originalmente formado como designer, combina uma forte estética gráfica com uma abordagem autodidacta, DIY perante a música, o som, a programação e pirataria de hardware. Isto tem levado a um corpo de trabalho que referencia e comenta as utilizações e as influências originais, culturais e contemplativas. Um dos artistas mais respeitados e prolíficos da sua geração, o seu trabalho tem sido exposto nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul e recebeu em 2004 o prestigioso “”Ernesto de Sousa Fellowship” para Arte Intermedia Experimental. A sua discografia inclui lançamentos nas editoras Grain of Sound, Crónica Electrónica e Sirr (PT), Efervescence (FR), Cherry Music (JP), Winds Measure (US) e Antmanuv (CAN).
André Gonçalves, Trigger Happy, PT: Exposição UM, Inauguração 12 de Nov, 22h, ECV Fiat (novo espaço), Av. 24 de Julho 60, [Santos] 1200-869. A exposição decorré até 27de Nov (Seg-Sex, 12-19h).